(R)EXISTIR COM GARRA

Abstract

Este artigo propõe uma análise fenomenológico-existencial da canção “Garra”, de Marcos Valle, utilizando a arte como recurso metodológico para a compreensão de conceitos fundamentais da abordagem fenomenológica- existencial, como liberdade, autenticidade e má-fé, a partir das contribuições de Jean-Paul Sartre, Martin Heidegger e Maurice Merleau-Ponty. A canção, lançada durante a Ditadura Militar brasileira, retrata um sujeito tensionado entre as exigências externas de sucesso e o desejo por uma vida com sentido, revelando a alienação de si e o sofrimento gerado por uma existência inautêntica, articulando a crítica ao sistema capitalista, compreendendo-o como estrutura que interfere na constituição da subjetividade e na vivência da liberdade. A análise da letra evidencia a tensão entre a submissão às imposições do capital e o anseio por autenticidade. O sistema, ao aprisionar o corpo e instrumentalizar a experiência, alimenta-se de condutas de má-fé, nas quais o sujeito nega sua liberdade e se submete à vontade do outro. O artigo também discute a atualidade da crítica presente em Garra, fenômenos como a cultura da validação nas redes sociais, o vício em jogos de azar online e os impactos da automação e da inteligência artificial sobre o trabalho ilustram novas formas de má-fé e aprofundamento da alienação. Esses processos atualizam as tensões existenciais presentes na canção, demonstrando sua potência crítica ainda hoje. Com isso, a música ultrapassa seu tempo, funcionando como denúncia, resistência e convite à reinvenção de si.